Vamos falar do todo?

Renato Casarotti, presidente da Abramge – Associação Brasileira de Planos de Saúde

Fiquei por alguns momentos refletindo sobre o mote que embala esse movimento. Repeti a frase algumas vezes para mim mesmo: todos por todos, todos por todos... todos... por todos. Tem um bom efeito sonoro, o poder aderente da aliteração – repetição de fonemas que cadenciam a sonoridade. Soa autoexplicativo, dá o recado do que somos e fazemos? Acredito que sim. E essa crença me fez escavar mais ainda o significado de um mote que me parece, ao mesmo tempo, princípio e fim.

Princípio porque explica a origem e a natureza de nossa atividade, a saúde suplementar. E fim porque remete ao nosso objetivo essencial e inegociável de entregar valor a todos os envolvidos nesta atividade – me refiro a melhor relação possível entre benefício, custo e atendimento, entre remuneração, necessidade e serviço. São valores que buscamos melhorar diuturnamente no trabalho para os nossos associados, comunidade médica e clientes. Todos por todos.

Temos uma terminologia no setor, emprestada inicialmente da biologia (com a licença do pai do termo, Dr. Heinrich Anton De Bary) e transferida ao longo dos anos para o mundo corporativo, que resume bem o sentimento de “todos por todos”: mutualismo. Na ciência da vida, na raiz latina do termo “mutuus” inspira reciprocidade, colaboração, ajuda mútua. Pense na relação entre caranguejos e anêmonas, entre aranhas e bromélias, entre abelhas e diversas plantas. Um se beneficia do outro, sem que necessariamente haja relação de dependência, embora com o providencial escudo da cooperação.

O termo logo entraria nos dicionários de negócios para nomear uma prática tão antiga quanto necessária. Os artesãos da Idade Média já viam na cooperação laboral a saída para o bem comum. Na Revolução Industrial (sobretudo entre os operários) e mesmo na Francesa, esse associativismo era visto como meio de facilitar a existência social e material. A prática ganharia luzes mais fortes anos depois, com o advento de fundos coletivos com objetivo de seguros mútuos – uma poupança constituída pelas contribuições de uma comunidade seria utilizada em casos extremos, para solucionar problemas coletivos ou individuais como doenças, morte ou incapacidade para o trabalho.

É exatamente esta a filosofia que se consolidaria décadas mais tarde nas sociedades mutualistas: a concepção de que é mais fácil suportar coletivamente as consequências danosas de riscos individuais do que deixar o indivíduo isolado e exposto a essas consequências.

O mutualismo surge, assim, como o princípio fundamental que constitui a base de toda a operação de seguro. É a associação entre membros de um grupo por meio da qual suas contribuições são utilizadas para garantir benefícios aos participantes. Dito de outra forma: a união de esforços de todos em favor randômico de... todos. Sim, em algum momento, em vários momentos, todos serão beneficiados pelo todo.

Planos de saúde lidam com um bem imaterial extremamente precioso – nossa saúde. Paga-se um valor mensal para ter acesso a alguns serviços (consultas, cirurgias, exames, pronto-socorro) lastreados por uma série de variáveis, tanto para as contratantes quanto para os contratados. O equilíbrio de custos e benefícios entre essas variáveis é justamente o grande desafio para o setor.

Por isso, a transparência e o debate constante entre os envolvidos – sociedade civil, comunidade médica, operadoras, formadores de opinião, tomadores de decisão – são a única forma de preservar e aprimorar o todo, por todos.

Eis a ideia principal do #TodosPor#Todos: suscitar um debate sobre os planos de saúde e a forma como a simbiose entre os associados oferece a todos uma cadeia de proteção. Sendo assim, convido a todos a participar desse debate.